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Amar a si próprio/a no contexto LBGT

Há uns anos a Pride Azores pediu-me que fala-se sobre a dificuldade que algumas pessoas LGBT (lesbicas, gays, bisexuais e transgénero) sentiam em amar-se a si próprias.

Para preparar a palestra comecei a perguntar-me se existiam realmente diferenças no desafio que supõe amar-se a si próprio/a para qualquer pessoa LGBT ou heterossexual…e rapidamente apercebi-me que existem claras diferencias, mas comecemos pelo desafio comum.

Amar-nos a nós próprios é uma difícil tarefa para todos/as nós, uma luta diária para alcançarmos um estado de felicidade.

Amar-nos a nós próprios/as é ante tudo a aceitação incondicional e completa de todos os nossos aspectos! (grande desafio!)

Amar o nosso corpo tal qual é, sem força-lo a ajustar-se a um modelo que nos impuseram, cuida-lo e respeita-lo por dentro e por fora.

Amar e aceitar as nossas emoções, pois todas elas têm uma função positiva na nossa vida.

Amar a nossa alma, a nossa parte espiritual.

Este amar-nos a nós próprios é uma luta diária individual, mas o certo é que o nosso contexto, comunidade, família…pode ajudar-nos a que esta seja uma luta mais fácil ou mais difícil.


Todos/as nós seja qual for a nossa orientação sexual precisamos de validação, o que significa isto, validação é “sentirmo-nos valiosos” sentir que somos importantes, respeitados e valorizados. Validar significa reconhecer todos os aspectos do outro/a:


Como é que ele/ela se sente

O que gosta

Quais os seus talentos

O que lhe faz rir

O que lhe faz chorar


Como a validação vem de fora, há uma parte da nossa auto-estima que depende da nossa sensação de ser valioso/a, o seja depende da imagem que os outros nos devolvem de nós próprios, (os outros como espelho) e essa imagem vê-se comprometida se não recebemos uma boa imagem do exterior.


As pessoas LGBT de hoje em dia, são aqueles que cresceram numa cultura onde se lhes negou a validação da sua sexualidade. Tradicionalmente cresceram em famílias onde ser homossexual está mal visto, é mau, pecado ou uma doença…isto faz com que muitos/as deles/as tenham passado alguma etapa do descobrimento da sua orientação sexual carregando culpa, vergonha e solidão. Muitos são os casos das pessoas que tiveram de emigrar para poder ser eles proprios/as e vivenciar a sua sexualidade de uma maneira mais relaxada… sem tanta pressão social…(tendo em conta o trauma que supõe uma dupla vida ou ter que estar longe dos seus e das suas raizes para poder crescer..)


Outras vezes à procura da validação dos outros para sentir-nos amados podemos por em risco a própria vida e saúde, tendo relações onde convertemo-nos num objecto para o outro enganando-nos a nós proprios e confundindo este conceito com o conceito do amor…por exemplo a prostituição dos adolescentes…

Constantemente ouvimos que a aceitação é o ingrediente principal para a felicidade, e que só quando nós gostamos de nós proprios os outros poderão gostar de nós. Mas o que é a aceitação?


A aceitação é fazer as pazes connosco proprios e não querer, não desejar ser outra pessoa.

No geral todos nós passamos por um processo de aceitação da nossa identidade, seja pela nossa raça, orientação sexual, género, nacionalidade…(o meu exemplo)

Mas para uma pessoa LGBT, a dificuldade vem do facto de que desde a sua infância estão a ouvir mensagens discriminatórias em relação à homossexualidade ou outras orientações que não a hetero. Com conceitos associados a características negativas…a nomes feios: “maricas” “bichas” “rabeta” “fufas””travecas”…por isso é difícil aceitar que somos uma coisa que é tão denegrida pelos outros.


Os/as que não conseguem aceitar a sua orientação ou o facto de q esta seja publica acabam por viver “no armário” a esconder quem são dos outros e de si próprios/as.

Imaginar viver num armário? Mesmo fisicamente... Imaginem-se agora dentro de um armário…até pode ser de madeira, plástico...pequeno ou grande…o armário até pode ser bonito, cómodo, funcionar como um refúgio…mas seja como for …após anos é sufocante…e isso magoa o nosso desenvolvimento…


Sair do armário é o primeiro grande passo da aceitação de um próprio porque aceitas-te frente ao mundo!

Não é importante que os outros saibam da nossa orientação, a nossa orientação faz parte da nossa privacidade mas o importante de dizer aos outros ou pelo menos não esconde-lo é o facto de que nós consigamos falar em voz alta de mais uma parte da nossa identidade sem vergonha, culpa ou medo…


Quando uma pessoa LGBT vai à terapia porque a sua orientação sexual está a mexer com o seu bem-estar…o problema não é a orientação sexual, o problema é a dificuldade em aceitar-se, em amar-se a si próprio/a, por isso a terapia deverá sempre ir na direcção de dar-lhe as ferramentas que precisem para uma sã identificação que lhe permita ser inteiramente feliz.


A chave para chegar a esta aceitação esta no AMOR, O AMOR PROPRIO, vem de interiorizar que ser LGBT não é um castigo e sim uma prenda da vida, da natureza!

Mas o amar-nos a nós proprios não sucede de um dia para outro...é um processo, para muitos/as de nós é o resultado de uma vida! Mas não devemos desistir!


O processo de construção da identidade, da nossa orientação sexual é um processo individual, mas como o resto dos processos dentro da construção da nossa identidade depende, muito do nosso contexto familiar, social e cultural...e é aí onde entra a nossa responsabilidade enquanto sociedade de lutar para que ser LGBT seja aceite de igual forma do que a heterossexualidade.


É por este motivo que eventos como este, no qual se inclui a Marcha do sábado fazem sentido!

Por isso da minha parte, mais uma vez obrigada Pride Azores pelo vosso trabalho na Região e pelo convite, a vossa luta é de todos/a nos e o 180 Terapias está nesta luta.



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